O atual conflito venezuelano se assemelha ao aikido, arte marcial na qual, para vencer, utiliza-se a própria força do oponente contra ele. Em outubro de 2016, após ter chegado ao consenso de multidões e da comunidade internacional para a realização de um referendum revocatório para dirimir a crise, porta-vozes da oposição participaram, improvisadamente, de uma mesa de diálogo da qual se levantaram com a ideia de eleições gerais adiantadas. O governo se beneficiou do erro tático da Mesa da Unidade Democrática (MUD) e conseguiu assim dinamitar a confiança de suas bases de apoio, enquanto o sentimento de desilusão se generalizava. Meses depois, para castigar uma Assembleia Nacional que aprovava uma declaração de apoio à aplicação da Carta Democrática Interamericana, o governo formalizou o processo de substituição de suas competências em duas sentenças emitidas pela Sala Constitucional do máximo tribunal do país. Ainda que a neutralização do Parlamento se realizasse pela via dos fatos já havia um ano, com escasso custo político para Miraflores, seu registro formal gerou uma onda de rejeição que incluiu a procuradora geral da República, Luisa Ortega Díaz. Os partidos políticos opositores conseguiram recompor a confiança, nessa oportunidade, por um escorregão do chavismo, em uma onda de protestos que continua até o momento de escrever esta coluna.
Publikationen der Stiftung → Venezuela: aikido e direitos humanos
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